Children's Book in Portuguese
"Este livro ilustrado convida-nos a embarcar rumo à ilha do Pico. (...) é um convite à descoberta do arquipélago e à proteção da vida marinha em todas as idades." - TIME OUT PORTUGAL
No conto de Isabel Mateus com ilustrações de Filipe Gomes, reaviva-se por certo a memória da tradicional caça à baleia praticada nos Açores que, desde o século XIX, foi o ganha-pão de muitas famílias das ilhas. E persegue-se, sobretudo, o sonho novo de um presente com futuro: a preservação das baleias através de uma observação responsável. Os sucessivos diálogos ao longo da narrativa entre o avô, que fora baleeiro no Pico, e o neto, que já nascera depois que essa faina fora proibida, em 1984, falam precisamente desse sonho do menino: ver a baleia-azul a passar nos Açores. Porém, esse desejo profundo e urgente revela-se uma façanha difícil de concretizar quando tal aventura depende do velho bote a remos do avô, das boas ou más condições climatéricas e, mormente, da dificuldade em avistar este mamífero tão raro, porque ainda em vias de extinção. De resto, foi apenas durante a terceira saída para o mar que o rapazote viu ao natural talvez o maior animal que alguma vez existiu na Terra. Na atualidade, e antecipando-se à atividade turística "Whale Watching", o menino, que entretanto se tornou adulto, mostra já ao leme da sua embarcação, durante a primavera e o verão, que é quando esta espécie de baleia faz a sua passagem migratória pelos Açores, a baleia-azul a todos.
"Ao ler este livro, mirei-me ao espelho do tempo. E nesse retrovisor senti-me, de novo, criança. As brincadeiras no Porto das Ribeiras. Na casa dos botes, em cima do cais, nas poças, à beira mar, em cima da ponte, por entre barcos varados sobre a rampa e gentes a escarafunchar em vidas encardidas.
Os pés de menino fincados nas pedras lisas do porto. Os olhos a varrer o mar de lés a lés, presos à Ponta do Morricão, na Calheta de Nesquim. A ânsia e a espera. O coração aos solavancos dentro do peito. A saudade entalada entre as tábuas de um batel de boca aberta. Os barcos que vão chegando, entre bonançarias e borrascas. A alegria e o encantamento a tomarem conta dos filhos dos pescadores. O barco encostado à escaleira e os beijos apressados, com sabor a sal e a sol, nos rostos secos e luminosos dos nossos pais. Peixe até aos bancos. A alegria estampada nos olhos de todos nós. O sonho, a fantasia e a imaginação à revelia. A realidade rapidamente transformada em jogo. Botes baleeiros e lanchas da baleia, feitos com canas da costa. Arriadas, perseguições, arpoamentos, capturas e reboques até fábricas imaginárias. Gestos, mitos e lendas de mares de baleias e de baleeiros a riscar, na ardósia da memória, um tempo de viver. Reinvenção de histórias e de contos de um mar feiticeiro, contados ao colo doce dos nossos pais e avós. E a ilha, toda inteira, à solta, aos pulos, dentro do olhar de uma criança.
Irmãos do peito, continuamos a olhar para as grandes baleias como personagens principais do mar açoriano, e português, que nos corre nas veias e na massa do sangue da história."
Manuel Francisco Costa Júnior, Diretor do Museu do Pico